A superfície da terra e as sedimentações da mente têm um modo de se desintegrar em regiões distintas da arte. Vários agentes, tanto ficcionais quanto reais, de alguma maneira trocam de lugar entre si - é impossível evitar o pensamento lamacento quando se trata de projetos da terra, ou daquilo que chamarei de “geologia abstrata”. A mente e a terra encontram-se em um processo constante de erosão: rios mentais derrubam encostas abstratas, ondas cerebrais desgastam rochedos de pensamento, idéias se decompõem em pedras de desconhecimento, e cristalizações conceituais desmoronam em ruídos arenosos de razão. Faculdades em amplo movimento se apresentam nesse miasma geológico e se movem de maneira o mais física possível. Embora esse movimento seja aparentemente imóvel, ele arrebenta a paisagem da lógica sob os devaneios glaciais. Esse fluxo lento torna consciente o turbilhão do pensamento. Colapsos, deslizamentos de escombros. Avalanches, tudo isso acontece dentro dos limites fissurados do cérebro. O corpo todo é sugado para o sedimento cerebral, onde partículas e fragmentos se fazem conhecer como consciência sólida. Um mundo frágil e fraturado cerca o artista. Organizar essa confusão de corrosões em padrões, gradações e subdivisões é um processo estético que mal foi tocado. (SMITHSON, 2006: 182)

"Sobre o calcário da parede craniana, Penone deposita um pó de grafite - a escolha do material em um tal contexto - procede a uma frottage delicada dos microscópicos relevos, redes e nervuras da superfície." (DIDI-HUBERMAN, 2009: 62). Giuseppe Penone. Paisagens do cérebro. 1990. Fita adesiva e carvão. Marian Goodman Gallery, New York