Bataille faz emergir, contra a ‘ordem arquitetural’ e “atacando de algum modo o homem”, a “monstruosidade bestial” da pintura moderna, que dilacera o corpo, a figura humana, criando outras superfícies de contato “como se não houvesse outra possibilidade de escapar à condenação arquitetural” (BATAILLE, 1929a: 117, tradução nossa); pois, afinal, mesmo em seu mais elevado ímpeto “o mais nobre dos animais, tem, entretanto, calos nos pés, isto é, ele tem os pés e esses pés levam, independentes dele, uma existência desprezível”. O corpo como espaço da morte podre e dos desejos, sufocado até a deformação nos sapatinhos chineses dos pés de lótus, irrompe, insubordinado, com o retrato de um enorme dedão do pé. “As dimensões do clichê, seu enquadramento, seu fundo escuro, tudo isso que é oferecido à representação de um dedão do pé é geralmente privilégio... dos rostos, dos retratos” (DIDI-HUBERMAN, 2015: 68), da fisionomia do ser. O ignóbil dedão do pé, o acéfalo, é o corpo, a carne excluída e sufocada trazida para o primeiro plano das imagens; a “insubordinação material” sob o reino do ideal, faz presente o “movimento de vai e vem do lixo ao ideal e do ideal ao lixo” que “causa verdadeira raiva aos homens” (BATAILLE, 1929b: 302, tradução nossa). É dentro deste movimento que parece se desenvolver a dialética sintomal de Bataille, contra todo idealismo: “o poder metamórfico da experiência visual” (DIDI-HUBERMAN, Op. Cit.: 225).