Vale notar que estamos trabalhando com um texto de Deleuze e Guattari (1992: 198) em que a noção de monumento é utilizada para referir-se à arte, segundo os autores: “é verdade que toda obra de arte é um monumento, mas o monumento não é aqui o que comemora o passado, é um bloco de sensações presentes que só devem a si mesmas sua própria conservação, e dão ao acontecimento o composto que ele celebra”.

Vale notar que estamos trabalhando com um texto de Deleuze e Guattari (1992: 198) em que a noção de monumento é utilizada para referir-se à arte, segundo os autores: “é verdade que toda obra de arte é um monumento, mas o monumento não é aqui o que comemora o passado, é um bloco de sensações presentes que só devem a si mesmas sua própria conservação, e dão ao acontecimento o composto que ele celebra”.

No desenvolvimento do texto, em suas considerações sobre o que seria esse “bloco de sensações”, através do qual os autores apontam uma definição de arte, nos encontramos com o “sistema território-casa” como solo da emergência de uma expressividade construtiva, sendo ela própria arte. Cito:

A arte começa talvez com o animal, ao menos com o animal que recorta o território e faz uma casa (os dois são correlativos ou até mesmo se confundem por vezes no que se chama habitat). Com o sistema território-casa, muitas funções orgânicas se transformam, sexualidade, procriação, agressividade, alimentação, mas não é essa transformação que explica a aparição do território e da casa; seria antes o inverso: o território implica na emergência de qualidades sensíveis puras, sensibilia que deixam de ser unicamente funcionais e se tornam traços de expressão, tornando possível uma transformação das funções. Sem dúvida esta expressividade já está difundida na vida, e pode-se dizer que o simples lírio dos campos celebra a glória dos céus. Mas é com o território e a casa que ela se torna construtiva, e ergue os monumentos rituais de uma missa animal que celebra as qualidades antes de tirar delas novas causalidades e finalidades. Esta emergência já é arte (Deleuze, 1992, p.217).

É na casa que começa a arte, “é por isso que a arquitetura é a primeira das artes” (Ibidem: 220). Ora, os autores, como é de se esperar, não dedicam-se aí ao objeto urbanístico e as implicações da habitação contemporânea como faremos nós mesmos. Para eles o território, e a casa, enquanto meio de expressividade construtiva da vida, são atravessadas, abalados, por uma série de vetores e linhas intensivas (internas e externas ao próprio território) que tensionam os limites e marcas estabelecidas e operam um movimento de desterritorialização. Tais movimentos parecem ser justamente o que abre o território e o lança ao universo, contendo o cosmos a casa arruina-se ou transforma-se.

Evidente que não proponho aqui uma aproximação literal com as edificações vazias que compõe o cenário de nosso estudo, essa perspectiva nos interessa pelo inverso do nosso objeto, que pode, no entanto, estar ele mesmo lá. Como no vazio pode-se encontrar justamente o que não está.