“Tem-se a impressão, dizia um visitante, de estar sob as ondas de algum rio fabuloso, no palácio de cristal de uma fada ou uma náiade.”
(Adolphe Démy, Essai Historique sur les Expositions Universelles)
A fetichização do objeto efetivada pela mercadoria evidencia-se nas Exposições Universais, que Benjamin define como “lugares de peregrinação ao fetiche-mercadoria”. Marx encontrava-se em Londres quando, em 1851, foi inaugurada, com enorme estadarlhaço a primeira Exposição Universal no Hyde Park, e é provável que a lembrança da impressão deixada naquela ocasião tenha contribuído para suas considerações sobre o caráter fetichista da mercadoria. A “fantasmagoria” de que fala, quando se refere à mercadoria reaparece nas intenções dos organizadores, que optaram, entre os diferentes projetos apresentados, por aquele de [Joseph] Paxton, o de um imenso palácio construído inteiramente de cristal (AGAMBEN, 2007: 68).
Depois do encerramento da Exposição de Londres, em 1851, perguntou-se, na Inglaterra, o que aconteceria com o Palácio de Cristal. Mas uma cláusula inserida no ato de concessão do terreno exigia… a demolição… do edifício: a opinião pública foi unânime em pedir a anulação desta cláusula… Os jornais estavam cheios de propostas de toda espécie, das quais muitas se destacavam por sua excentricidade. Um médico quis fazer dele um hospital; um outro, um estabelecimento de banhos… Algém deu a ideia de uma biblioteca gigantesca. Um inglês, levando ao excesso a paixão pelas flores, insistiu para que o edifício todo fosse um canteiro.” O Palácio de Cristal foi adquirido por intermédio de Francis Fuller e transferido para Syndesham. A.S. de Doncourt, Les Expositions Universelles. Lile-Paris, 1889, p.77. Cf. [F 6a, 1]. A Bolsa de valores podia representar à tudo, o Palácio de Cristal podia servir à tudo [F 5a, 1] (BENJAMIN, 2018: 287).